Amamentação & Vacina
Sempre que surgem novos tratamentos, surgem dúvidas e receios em relação à sua administração a grávidas, crianças e mães a amamentar. A vacina contra à COVID-19 não é exceção!
É importante esclarecer que, por motivos éticos, estes grupos só muito excecionalmente fazem parte dos estudos iniciais da aplicação de fármacos, tratamentos e vacinas. Facilmente, se for ao seu armário da medicação e ler a bula dos medicamentos que administra com tanta confiança ao seu filho, ou que tomou durante a gravidez, por exemplo, pode ter algumas surpresas!
Habitualmente, só se retira a informação da bula relativa a grávidas, crianças e mães lactantes, após vários anos de utilização “off-label”, ou seja, sem terem sido feitos estudos de segurança específicos para estes grupos.
Como tudo o que tem acompanhado esta pandemia, o desconhecido reativa todos os nossos receios. De facto, tem havido preocupação por parte das mães lactantes quanto à segurança da manutenção da amamentação perante a administração da vacina. A maioria das vezes, infelizmente, esse receio, é-lhes veiculado por profissionais de saúde.
Inclusivamente, a posição da Direção Geral da Saúde (DGS), na sua norma de 23/12/2020 refere que “Não existem estudos sobre a administração desta vacina durante a gravidez e desconhece-se se esta vacina é excretada no leite humano. No entanto, se os benefícios esperados ultrapassarem os potenciais riscos para mulher, a vacina poderá ser considerada, por prescrição do médico assistente.”
Perante esta informação na norma da DGS, os médicos assistentes podem optar por não assumir a responsabilidade do aconselhamento de vacinar uma mulher que amamenta, mesmo fazendo-o habitualmente noutras situações idênticas. Por outro lado, esta informação pode encorajar o desmame precoce por parte das mães, que se vêm forçadas a optar entre manter a amamentação do seu bebé ou protegerem-se contra a tão temida infeção!
De facto, os ensaios clínicos das vacinas da Pfizer, da AstaZeneca e da Moderna não incluíram lactantes, como tal não estão disponíveis dados de segurança relativos a esta população específica. Mas a ausência de dados, só muito excecionalmente justifica a exclusão alargada de um grupo populacional!
Desta forma, torna-se essencial divulgar a todos os intervenientes a informação de que já dispomos e, assim, podermos contribuir para informações baseadas no conhecimento e não no medo.
As informações fornecidas pelos laboratórios responsáveis pela preparação das vacinas disponíveis afirmam que estas não contêm vírus vivos nem conservantes.
A Comissão de Medicamentos Humanos (Comissionon on Human Medicines) do Reino Unido, reviu as suas recomendações no final de dezembro de 2020, referindo que:
– a vacina de vetor viral (Universidade de Oxford / AstraZeneca): “as mulheres que estão a amamentar podem receber a vacina”.
– a vacina de ARNm (Pfizer-BioNTech Comirnaty): “ainda que não existam estudos efetuados na amamentação, não são de esperar riscos” e na sua versão mais recente de 24/12/2020 “pode fazer a vacina da COVID 19 se estiver a amamentar”.
Para além disso, as mais diversas Sociedades Científicas Internacionais, têm libertado recomendações no sentido da vacinação das mães lactantes, sem restrições.
A título de exemplo:
– O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (American College of Obstetricians and Gynecologists) recomenda que as vacinas sejam oferecidas a lactantes da mesma forma que a não lactantes. Mesmo que as lactantes não tenham sido incluídas na maioria dos ensaios clínicos, as vacinas contra a COVID-19 não devem ser negadas às lactantes, pois as potenciais preocupações com relação à segurança de vacinar indivíduos lactantes não superam os benefícios potenciais de receber a vacina.
– A Academia Americana de Aleitamento Materno (Academy of Breastfeeding Medicine) não recomenda a suspensão da amamentação nos indivíduos que são vacinados contra a COVID 19, e reforça que existe pouca plausibilidade biológica de que a vacina cause dano e, inclusivamente, que os anticorpos para o SARS-CoV-2 no leite podem proteger a criança amamentada.
Perante isto, vários países, como por exemplo, a Irlanda, o Canadá e a Espanha, têm feito modificações às suas normas de vacinação.
Em última análise, compete à lactante tomar a decisão final! Esperamos, com este artigo, ter contribuído para veicular-lhe conhecimentos que lhe permitam decidir em consciência e com a máxima segurança possível, se pretende ou não interromper a amamentação do seu bebé para receber a vacina contra a COVID 19.
Drª Inês Santos
Coordenadora da Unidade de Pediatria CSSMH
Consultora Internacional de Lactação (IBCLC) pelo International Board of Consultant Examiners
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