A anquiloglossia, frequentemente conhecida como língua presa, é uma condição congénita em que o freio lingual — a membrana que une a língua à parte inferior da boca — é anormalmente curto, grosso ou rígido. Esta condição anatómica restringe a movimentação da língua, podendo impactar na execução das várias funções orais – sucção, mastigação, deglutição, respiração e/ou fala. Sabemos hoje que, os bebés com anquiloglossia já nascem com essa alteração e que não é possível que o freio lingual alongue com massagens e/ou exercícios. Existem muitos casos de freios alterados em adultos, que se mantiveram por meio de compensações músculo-esqueléticas, que ocorrem também no bebé, e que devem ser prevenidas e tratadas.

Não se conhecem as causas exatas para a anquiloglossia, mas sabe-se que a prevalência dessa condição é maior no sexo masculino. Na última década, tem havido um aumento exponencial do número de crianças diagnosticadas e tratadas com anquiloglossia nos países desenvolvidos. No entanto, esta questão não é uma novidade, uma vez que se sabe que se faziam este tipo de procedimentos à nascença, desde o tempo das nossas avós.

São várias as possíveis consequências da anquiloglossia ao longo da vida:

Amamentação – A língua é essencial para possibilitar a sucção, pelo que o freio restritivo pode limitar os movimentos da mesma, causando um impedimento funcional significativo à pega correta do bebé, e, por conseguinte, à transferência de leite. Normalmente, é coexistente com queixas maternas de dor/desconforto no mamilo e aréola e até ferida, podendo resultar num desmame precoce.

Respiração e questões orofaciais – pode potenciar uma respiração oral, que por sua vez pode impactar o crescimento adequado das estruturas faciais e levar também a problemas ortodônticos no futuro;

Fala – Pode comprometer a articulação dos sons da fala, em particular aqueles que exigem maior mobilidade da língua (como por exemplo: l, r, lh);

Mastigação – A língua presa pode dificultar a movimentação dos alimentos dentro da boca durante a mastigação, resultando em dificuldade em formar o bolo alimentar e mastigar adequadamente alimentos sólidos;

Deglutição – A coordenação dos movimentos da língua na deglutição pode ser prejudicada, podendo levar a um padrão de deglutição atípico e até à ingestão de ar, causando desconforto e/ou distúrbios alimentares;

Higiene Oral – A mobilidade reduzida da língua pode prejudicar a capacidade de remover resíduos alimentares adequadamente das superfícies dos dentes e bochechas, levando a um maior risco de cáries e outros problemas dentários;

Impacto Emocional – Pode causar insegurança e baixa autoestima, principalmente em crianças em fase escolar, que têm dificuldades na fala ou na alimentação, gerando desconforto social.

Assim, se a anquiloglossia estiver a impactar as funções orais, nomeadamente a amamentação, poderá estar indicada a realização de um procedimento chamado frenotomia. Este procedimento, realizado por um odontopediatra, consiste em cortar o freio lingual para libertar o movimento da língua. Após avaliação criteriosa, a frenotomia é rápida e indolor para o bebé, podendo trazer melhorias imediatas e impactantes na amamentação. Após isto, é sempre recomendada a realização de acompanhamento com um terapeuta da fala especializado na área miofuncional. Pensemos neste procedimento como uma cirurgia, à que se sucede terapia adequada, com a finalidade de reabilitar as estruturas e funções orais, e no caso do bebé, a amamentação. Mais tarde, previne outros problemas como questões relacionadas com a alimentação e a fala.

A Casa de Saúde São Mateus tem um equipa de profissionais especializados em prestar acompanhamento na amamentação. A equipa de pediatria conta com dois consultores de lactação IBCLC, medicina dentária, em especial odontopediatria, terapia da fala miofuncional, osteopatia, psicologia, tratamento de laserterapia para alívio da dor e da inflamação, entre outros. Deste modo, estão disponíveis consultas de amamentação, e no caso de (após avaliação específica) ser detetada uma situação de anquiloglossia no bebé, existe uma equipa composta por uma odontopediatra e uma terapeuta da fala miofuncional que em colaboração, realizam a frenotomia e consequente acompanhamento à díade mãe-bebé e à reabilitação das estruturas e funções orais do bebé.

Se a sua família está a enfrentar desafios na amamentação, procure ajuda especializada o mais cedo possível de forma a garantir o sucesso da amamentação e o bem-estar da mãe e do bebé.

Ana Francisca Ferreira – Terapeuta da Fala CSSMH

Iolanda Duque – Odontopediatra