Cancro da Próstata: Os Homens também choram

Desde muito cedo que ouvimos que “temos de ser fortes” quando lidamos com situações difíceis. Na realidade, há expressões populares que remetem para uma interpretação pouco saudável em termos de bem estar e saúde psicológica. É natural que haja uma tendência em reprimir emoções porque os “homens não choram” e consequentemente “temos de ser fortes” ao ponto de não expressar qualquer emoção. Porque não chorar ou ser forte, ainda é interpretado como como se nada sentíssemos ou fôssemos desprovidos de emoções. Isto tem consequências porque nós precisamos de nos expressar até para auto regulação.
 
Neste mês da prevenção do cancro da próstata, importa destacar o impacto que este diagnóstico pode ter; culturalmente associado à virilidade, tudo o que envolve “partes íntimas” num homem ainda é muita vezes alvo de alguma auto-censura e reserva, no que diz respeito a falar do assunto com familiares e até profissionais de saúde. Mas se nós homens temos uma próstata, todos podemos sofrer com este diagnóstico, até porque este tipo de cancro é o mais prevalente no homem, havendo cerca de 6600 novos casos por ano, em Portugal.
 
É importante termos a noção do impacto da notícia de um diagnóstico destes, porque o choque, a revolta e o medo da morte, são reações expectáveis. Mesmo com elevadas taxas de sucesso nos tratamentos, pensamos no pior, e como tal deve-se intervir com literacia sobre o tema e validação emocional. A família sente o impacto e também precisa de apoio. Desconstruindo as expressões populares, aqui “temos de ser fortes” e falar do assunto, porque se os “homens não choram” podem vir a procurar estratégias prejudiciais como hábitos sociais enraizados e “beber para esquecer”.
 
Mas não se esquece. E podemos estar a adiar uma ida ao médico, a evitar fazer exames por ser “constrangedor” com um potencial agravamento da doença.
Previna. Se surgirem manifestações que não são habituais ao nível da próstata, procure um especialista o quanto antes.
Se tiver de lidar com uma notícia impactante, esta será certamente menos dramática do que o tratamento que poderá ter de vir a fazer se a situação for adiada e a situação clínica se agravar.
 
Se precisar de um abraço de conforto, significa que é humano. Se se emocionar e chorar, é normal, significa que teve a coragem de encarar de frente um problema que tem grande impacto. Se se sente angustiado, procure esclarecer as dúvidas com os profissionais certos. Há diferentes estratégias para lidar com a angústia inerente, em relação a um problema que pode afetar qualquer “homem de barba rija”. E um psicólogo pode ajudar.

 

Sérgio Viana – Psicólogo CSSMH