Cancro Ginecológico

Mitos, Realidades e… Esperança

O cancro é uma doença maligna que pode afetar praticamente todos os órgãos e estruturas do nosso corpo. Por ser frequente, perturbador da nossa estabilidade, ameaçador da nossa vida e, muitas vezes, altamente mutilante, é reconhecido, na nossa realidade, como uma das principais preocupações pessoais e da sociedade. Assim nasceu a cancerofobia (medo do cancro) que se, por um lado ajuda à vigilância e diagnóstico atempado, por outro, cria pânicos infundados e, até, um certo abuso no consumo de exames e atos médicos.
O cancro ginecológico foi durante muitas décadas menos considerado em relação aos outros cancros pela supremacia masculina nos cuidados de saúde e também pela sua relativa baixa mortalidade desvalorizando-se a sua elevada morbilidade e potencial incapacitante. O desenvolvimento da Ginecologia como especialidade médica dedicada à saúde da mulher, fora da gravidez e do parto trouxe indiscutivelmente outra atenção a esta doença e muitos mais profissionais para o seu estudo, vigilância e tratamento. Assim se chegou aos tempos de hoje.
Esta doença tem uma multiplicidade de apresentações dependendo da estrutura anatómica que afeta (Vulva, Vagina, Colo Uterino, Corpo Uterino, Trompa, Ovário e Mama).
A sua causa é na maioria dos casos desconhecida havendo nalgumas uma predisposição familiar (Ovário e Mama), noutras uma forte relação com infeção pelo Vírus Papiloma Humano – “HPV” (Vagina e Colo uterino) e outras multifatoriais (Corpo uterino e Trompa). Sendo assim, a prevenção primária (ações no sentido de evitar a doença antes do seu aparecimento) está limitada à administração da vacina do HPV, preferencialmente nas crianças/adolescentes antes do início da atividade sexual (já incluída no calendário vacinal em Portugal), na prevenção do cancro do colo uterino.
A sua evolução e prognóstico dependem muito da altura do diagnóstico e do início do tratamento. Assim os meios mais importantes que temos são:


INFORMAÇÃO e COLABORAÇÃO ACTIVA DA MULHER – A identificação precoce de sintomas ou sinais e a procura do médico em tempo útil constituem uma mais-valia primordial na luta contra esta doença. Para além disto, a realização dos rastreios e da vigilância ginecológica anual pelas mulheres saudáveis tornaram-se a verdadeira razão na melhoria do prognóstico.


RASTREIO – A procura da doença, por um meio simples, barato, de aplicação universal e sistemática, numa população pré definida por critérios de probabilidade (exemplos: rastreio do cancro do colo uterino através da realização de Citologia Cervicovaginal em toda a população feminina dos 25 aos 65 anos de idade e rastreio do cancro da mama através da realização de Mamografia em toda a população feminina dos 50 aos 70 anos de idade).


DIAGNÓSTICO PRECOCE – A procura sistemática durante a consulta de determinados sintomas ou sinais que nos podem levar a um diagnóstico em mulher não suspeita de ter doença (exemplos: pesquisa de perda de sangue pós menopausa como indicador do cancro do corpo do útero, realização sistemática de ecografia ginecológica transvaginal na pós menopausa para pesquisa de alterações suspeitas do endométrio, trompas e ovários, observação cuidadosa da vulva e vagina para pesquisa de lesões suspeitas/percussoras do cancro, promoção do auto exame da mama e observação sistemática da mama na consulta).


DIAGNÓSTICO – A procura da doença orientada pelas queixas da doente sintomática (exemplos: biópsia, histeroscopia. ecografia mamária, etc.).


TRATAMENTO – O mais precoce possível após o diagnóstico e normalmente orientado por Consensos da Comunidade Científica e decididos em Consultas de Grupo (Consultas de Decisão Terapêutica).


PROGNÓSTICO – Depende da evolução do tumor no momento do diagnóstico mas também do tipo de tumor, da sua localização e disseminação, da sensibilidade aos tratamentos existentes (cirúrgico, radioterapia, quimioterapia e hormonoterapia) e, muito importante, a oportunidade na sua instituição. No entanto, convém reter que a mortalidade da maioria dos cancros ginecológicos é baixa, a sobrevida é elevada e existe, nos dias de hoje, uma elevada percentagem de cura.


Por último ficam ALGUMAS MENSAGENS IMPORTANTES para as mulheres:

– Rastreios atualizados;
– Observação uma vez por ano;
– Nódulo da mama obriga a consulta médica;
– Perda de sangue fora do período menstrual obriga a consulta médica (especialmente após a menopausa ou provocada pela relação sexual);
– Dor pélvica frequente sem causa esclarecida obriga a consulta médica e ecografia ginecológica (preferencialmente via transvaginal);
– Qualquer ferida/lesão nos órgãos genitais (especialmente após a menopausa) obriga a consulta médica.

Dr. Fancisco Nogueira Martins

Dr. Francisco Nogueira Martins

Médico Ginecologista CSSMH