Consulta da dor, prevenir a evolução de dor aguda para a dor crónica

A dor é definida como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano real ou potencial ao tecido, ou descrita em termos de tal dano” segundo a  IASP (International Association for the Study of Pain). Quando falamos de dor crónica referimo-nos àquela dor que continua presente por mais de 3 meses ou persiste após o período estimado para a recuperação normal de uma lesão. Esta dor crónica pode surgir no contexto de várias doenças como diabetes, zona, artrose ou cancro, assim como pode estar associada a um período pós-operatório ou surgir sem causa aparente. A dor crónica provoca não só incapacidade física e funcional, mas também afeta a esfera psicossocial do indivíduo.

Alguns estudos estimam que cerca de 37% dos portugueses sofrem de dor crónica, e 14% dos portugueses têm dor crónica recorrente com intensidade moderada ou intensa. Estima-se que os custos associados à mesma ascendem a mais de 4600 milhões de Euros, o que representa 2.7% do PIB nacional. Segundo alguns estudos, há doentes com dor há mais de 10 anos e que não têm resposta aos seus problemas.

Quando a dor aguda evolui para dor crónica, torna-se um problema de saúde, tanto a nível pessoal como a escala pública, causando mobilidade, absentismo e incapacidade, gerando elevados custos aos sistemas de saúde e causando grande impacto na qualidade de vida tanto dos pacientes como dos familiares.

Ao tratar a dor crónica evitamos as consequências da mesma, como por exemplo a incapacidade física e funcional, a dependência, o afastamento social e a falta de esperança, que muitas vezes leva a mudanças na dinâmica familiar e problemas económicos. 

Por isso é muito importante monitorizar a dor de um indivíduo que não melhora em três meses, pois o tratamento precoce da dor é a melhor maneira de prevenir a dor crónica persistente a longo prazo.

A IASP cada ano destaca um aspecto importante da dor e focaliza-se no impacto global da dor crónica e a sua implicação na qualidade de vida das pessoas que sofrem dor crónica e o seu impacto na sociedade. No ano de 2020, esta associação está a focar-se na prevenção da dor crónica e nas diferentes estratégias que podem ser utilizadas por investigadores, médicos dedicados a tratar a dor crónica e pacientes, com o objectivo de minimizar o impacto que a dor crónica tem nas nossas sociedades. 

Uma vez que a dor crónica já está estabelecida, é fundamental o controlo da mesma para reduzir a incapacidade que muitas vezes a dor provoca, assim como limitar o impacto social e no trabalho que a mesma pode ter.

Por tudo isto, a IASP pretende, durante este ano de 2020, chamar a atenção para estratégias que permitam prevenir que a dor aguda se torne crónica. 

Pode fazer muitas coisas que permitam reduzir a sua dor aguda e evitar o desenvolvimento de dor crónica. Entender a sua dor, manter uma boa comunicação com o seu profissional de saúde, manter-se activo e cuidar da sua saúde emocional reduzem a dor e reduzem o risco de desenvolver dor crónica. 

O tratamento precoce da dor é a melhor maneira de prevenir a dor crónica persistente a longo prazo. É importante não deixar que a dor controle a sua vida. Controle a sua dor.

Dr. Manuel Vico

Dr. Manuel Vico

Médico Especialista em Anestesiologia da CSSMH

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