COVID-19: Como minimizar os efeitos da pandemia nas crianças?

Caras famílias,

Hoje dirigimo-nos a vós.

Portugal precisa de todos. E a nossa cidade de Viseu também.

Vivemos tempos muito difíceis, a todos os níveis. E o impacto da pandemia no nosso dia-a-dia faz-se sentir de muitas formas. Naqueles que têm que continuar a trabalhar, apesar do medo de contágio e do sentimento de impotência pela falta de recursos humanos e materiais (nos serviços de saúde, nos equipamentos sociais e educativos, nos serviços públicos, nas forças de segurança)… Naqueles que asseguram o abastecimento de bens essenciais, trabalhando nos bastidores para que nada falte aos restantes… Naqueles que foram infetados e lutam contra a doença… Naqueles que estão em quarentena por suspeita de infeção… Naqueles que ficaram em casa a cuidar das crianças e têm de lidar com os medos destas e com a dificuldade em mantê-las ocupadas de forma saudável… Naqueles todos que foram aconselhados à quarentena voluntária e respeitam com dignidade este seu dever, apesar de terem vontade de fazer algo mais pelo país ou de sair para espairecer…

Todos podemos fazer muito. Cada um na sua condição, fará o máximo se cumprir o que lhe compete. Ficar em casa é fazer muito. Ajudar os vizinhos mais idosos nas compras ou idas à farmácia é fazer muito. Publicar mensagens de esperança e otimismo é fazer muito. Sensibilizar os amigos e familiares a cumprirem o isolamento e manter-se presente através do telefone e das redes sociais é fazer muito. Partilhar com os cuidadores das crianças atividades que se podem fazer neste tempo de isolamento é fazer muito.

E nós, enquanto equipa que zela pelos bebés, crianças, adolescentes e suas famílias queremos fazer a nossa parte também. Deixamos para isso exemplos de atividades que os pais podem fazer com os filhos em casa. Sendo lúdicas, têm também um objetivo didático e de treino de competências. Não vamos sair para comprar materiais ou brinquedos, vamos usar o que temos em casa e muita criatividade! Aproveitemos este tempo para “perder tempo” com os miúdos, conversar, conversar, conversar, brincar com eles ao que eles quiserem! Que não seja a televisão a única companhia deles nesta fase! Não é importante fazer 50 atividades por dia, mas antes manter dias organizados com uma atitude positiva, paciente e serena.

Ora vejam (a maioria destas sugestões ajuda muito as crianças com características de PHDA, dislexia ou dificuldades na linguagem, mas serve para todas. Escolham aquelas que se adaptam mais às idades dos vossos filhos):

  • Planear a semana, num quadro, com a indicação dos tempos e atividades ao longo dos dias- é muito organizador!
  • Planear e executar a confeção de uma receita culinária (não podemos pôr-nos a inventar muito porque os recursos são limitados, mas vejam o que têm na despensa e deixem os miúdos participar na preparação das refeições)
  • Ajudar nas tarefas de casa (pôr e tirar a loiça da máquina, arrumar a despensa, dobrar a roupa, fazer a cama) e dar tempo para as rotinas que treinam a autonomia (no comer, na higiene, no vestir, na arrumação depois de brincar, nos TPC, etc…)
  • Um tempo de silêncio digital, em que não se pode usar dispositivos digitais, deixando à escolha de cada um a atividade que quer fazer
  • Um tempo de ginástica, para subir e descer escadas, fazer cambalhotas, saltar em cima da cama, correr no corredor…
  • Jogos de sopas de letras, palavras cruzadas, descobrir as diferenças entre 2 desenhos, labirintos, desenhos para unir os pontinhos (encontra na Net para imprimir)
  • Jogo do enforcado, jogo do STOP, batalha naval, jogo do galo
  • Ler lengalengas, adivinhas, provérbios, anedotas, piadas secas. Fazer um caderno pessoal com cópia das que mais se gosta (há quem chame “Estupidário” a um diário de piadas)
  • Escrever um diário que relate o que se está a viver
  • Desenhar, pintar, usar bolas de sabão (improvise com detergente da loiça e as varetas de bater os ovos)
  • Jogos de mímica (de animais, profissões, atividades…) ou de adivinhar o objecto descrito pela criança sem se poder dizer o nome do objeto e estando o adulto de olhos fechados
  • Jogo do tabu (descrever uma palavra sem se poder dizer palavras da mesma família)
  • Aprender a fazer origamis (há muitos tutoriais na Net, mas lembram-se do “Quanto queres?)
  • Slime/plasticina para construir formas (farinha e água também fazem uma pasta de moldar caseira que descola da mão com óleo e se trabalha muito bem…)
  • Aprender truques de magia caseiros (muitos tutoriais na Net)
  • Encestar bolas ou rolhas de cortiça para um balde/cesto improvisado
  • Fazer colares de “missangas” com as estrelinhas da canja (torrados na frigideira ficam castanhos, que pode alternar com a cor base)
  • Saltar à macaca colada no chão com fita-cola
  • Fazer percursos para saltar (uma almofada, uma corda para passar por baixo, um banco ou degrau para saltar, etc… use o que tem à mão)
  • Ressuscitar os jogos de tabuleiro que haja em casa: Tangram (que também se pode construir imprimindo da Net),  Mikado (que também se pode fazer com paus de espetadas pintados com marcadores), puzzles, legos, damas, xadrez, Monopólio, cartas, Quem é quem?, etc…
  • Ressuscitar os nosso jogos de infância: “Mãezinha dá licença?”, “Macaquinho de Chinês”, elástico, escondidas, jogo do sério, plantar o feijãozinho ou domesticar formigas em caixas de fósforos…
  • Se alguém toca instrumentos em casa, é tempo de cantar e tocar. E pode-se sempre fabricar instrumentos (como uma garrafa de água vazia com cascas de pistachos dentro, que dá uma maraca muito boa!)
  • Imitar coreografias ou cantar com karaoke
  • Usar a criatividade para reutilizar materiais recicláveis e deixar os miúdos fazerem invenções (uma máquina do tempo, uma casa anti-vírus, um chapéu mágico, etc…)
  • Caça ao tesouro em casa, com pistas para descobrir e tarefas a desempenhar até chegar ao tesouro final
  • Contar ou ler histórias, preparar um teatro caseiro e construir fantoches com meias velhas que depois de metem nas mãos para fazer as personagens (veja na Net como)
  • Acampar na sala ou debaixo da cama
  • Escrever ou desenhar postais para os familiares distantes, doentes ou que estão a trabalhar
  • Pintar ovos da Páscoa
  • Selecionar fotos guardadas no computador ou telemóvel e fazer um álbum digital. Se tem álbuns antigos, revisitá-los e contar memórias passadas da infância dos pais, do resto da família ou das próprias crianças. Porque não construir uma árvore genealógica?
  • E porque não fazer alguma mudança no quarto?
  • Construir histórias em família, uma por semana, dando origem a um “livro” que as crianças decorarão com os seus desenhos 
  • Brincar às compras (pode fazer-se dinheiro a fingir) e aproveitar os produtos da dispensa-  e estamos a trabalhar muitas competências de cálculo! 
  • Adivinhar que sentimento o outro está a pensar através de questões ou de mímica 
  • Construir um pote da gratidão/felicidade, onde se colocam todos os dias papelinhos com aquilo que fez sentir mais feliz cada um e só se pode abrir para ler no final deste período intenso em família 
  • Um momento de relaxamento em família: respirações profundas e exercícios de mindfullness. Ou porque não construir um “Cesto da Calma” para cada elemento da família? Cada um seleciona atividades ou objetos que o acalmem, como um peluche, pintar, música, croché…, e todos constroem um moinho de vento com papel de publicidade que haja em casa ou revista e um alfinete. Acrescentam ao seu cesto. E definem um momento do dia para todos respirarem/soprarem ou quando sentirem que estão a perder a paciência. Nesses momentos, também podem escolher uma das atividades do cestinho e tranquilizar-se. Em cada haste podem desenhar um sorriso ou escrever uma palavra positiva. 
  • Fazer uma sessão fotográfica
  • Ver um filme ou um episódio de desenhos animados e, no final, pedir para pintar um desenho com as personagens e contar a história
  • Para os mais pequeninos (entre 6-24 meses), olhem para as vossas cozinhas: está cheia de materiais que permitem explorar texturas, cores, cheiros, ruídos, empilhar, enfiar, encestar… deixem-nos despejar os armários e descobrir que a forma do bolo dá um excelente chapéu!
  • E se tem a sorte de ter uma varanda ou um quintal, aproveite o sol, as pedrinhas, as plantas…
  • E sem esquecer: fazer uma lembrança para o Dia do Pai (desenho, texto, vídeo…)!

Acima de tudo, deixem os filhos exteriorizar todos os medos e dúvidas e respondam com simplicidade a tudo! Não se esqueçam de lhes ensinar as regras de etiqueta respirátoria e melhorar os hábitos de higiene com as mãos! E desenvolvam neles a empatia com o sofrimento dos outros e o sentido de bem comum! Protejam os mais pequenos (e todos) da sobreinformação e expliquem-lhes o que se ouve nas notícias e a razão da reoganização familiar. Se há algum familiar afastado pela necessidade de cuidar de outros, mostrem-lhes que estamos todos a ajudar quem mais precisa.

Assim, permitiremos que eles se sintam úteis nesta fase e mantenham a sua saúde mental. E a nossa também!

Juntos, somos mais fortes.

Um abraço amigo,

Equipa da Unidade de Pediatria CSSMH

Ao dispôr para o que necessitarem (seja por email, telefone ou presencialmente em situações necessárias)