
Crise ou Oportunidade?
Mensagem de Páscoa do Capelão CSSMH, Pe. João Zuzarte
Vivemos tempos de crise. O tempo presente, conhecido como a “era da pós-verdade” e, definido por muitos como a “estação do desvanecimento” é marcado por um percurso instável e frágil que deu origem a um panorama económico, social e antropológico de crise. A pandemia e a situação de conflito armado na Ucrânia que estamos a viver têm sido um acelerador dessa crise que é global, e consequentemente, alterou a vida de milhões de pessoas. Na atual conjuntura ganham alento as visões mais pessimistas perante um futuro que se apresenta incerto, cresce a desconfiança que destrói relações e suscita preconceitos, florescem novas formas de egoísmo e individualismo, e a (suposta) paz mundial vê-se ameaçada.
Perante a “radiografia” do atual contexto em que a palavra “crise” parece ser um dos termos mais utilizados nos diversos domínios da vida, as questões que se impõem são estas: não é chegado o momento oportuno de mudar de paradigma? Devemos encarar a crise como uma fatalidade ou como uma oportunidade? Afinal, o que nos está a ser dito?
Talvez nos esteja a ser dito que onde há crise há esperança. Ou porventura, que os tempos de crise se apresentam como uma oportunidade e um imperativo para a mudança de mentalidade e atitude, para a abertura aos “novos sinais dos tempos”. Muito provavelmente, está a ser-nos dado o alerta para reaprendermos a distinguir e a valorizar o que é essencial na vida e a não nos deixarmos, literalmente, engolir pelo tempo que corre voraz na corrente dos dias.
No correr da história cada geração é chamada a viver tempos bons e maus, feitos de maturações, deslocações, ruturas e recomeços. O importante a salvaguardar, como refere o poeta Tolentino Mendonça, é que, como comunidade (trabalho, familiar, etc.) nos encontremos unidos em torno da atualização dos valores humanos essenciais e sejamos capazes de lutar por eles.
Os tempos de mudança são sempre inspiradores e desafiantes. Permitem abrir novas leituras, traçar novos percursos e aderir a novas abordagens. Possibilitam a consciencialização de que para fenómenos novos requerem-se respostas novas. Em última instância, este tempo poderá ser um Kairós, um tempo de Graça para nos reencontrarmos e nos reinventarmos.
Num momento alinhado com os mais diversos receios e medos humanos, o simbólico religioso apresenta-se como estímulo de mudança e como horizonte para enfrentar a crise e abrir a novas perspetivas. Trata-se da Páscoa. A Páscoa é um acontecimento de morte e ressurreição. Enquanto coração das celebrações do cristianismo, faz ecoar a lição da passagem (Pessah) para uma vida renovada e orientada para os mais elevados valores humanos. A história da Páscoa está inscrita e enraizada na nossa tradição cultural, da qual podemos sempre encontrar algo novo, algo que pode iluminar a nossa situação de vida atual. Na sua gênese, o espírito pascal, transmite-nos esperança, confiança, determinação e coragem, reforçando-nos na solidariedade e na arte de cuidar do outro. É tempo para recentrarmos a rota da vida, empenharmos uma verdadeira “revolução da ternura” e cultivarmos a “cultura do encontro” nas nossas relações familiares e profissionais.
Este princípio e ideal de «ser» e «estar» na vida é transversal às relações familiares, como às profissionais, em especial, na área da saúde. É fundamental que um dos âmbitos mais importantes para o bem-estar e equilíbrio humano, como o é da saúde, se reveja nesta proposta pascal de criar condições e ambiente onde as pessoas se sintam bem, se sintam felizes e acolhidas. Onde paralelamente à formação de competências técnicas se inclua a formação do coração que imprime um tipo de proximidade atenta e comunica empatia e afeto.
Em suma, a sociedade de hoje não pode hesitar em fazer da crise um momento de travessia, um tempo pascal – de passagem – na esperança de um mundo melhor, com boas práticas coletivas e comunitárias ao serviço da defesa da vida, da paz no mundo e da saúde de todos, a começar pelos mais frágeis.
Pe. João Zuzarte
Capelão CSSMH
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