A Diabetes em tempo de Pandemia

A diabetes é uma doença muito frequente, existindo em Portugal mais de um milhão de pessoas com esta doença. Podemos assim fazer uma analogia, afirmando que existe uma «epidemia» de diabetes em Portugal. O principal problema da diabetes são as complicações, nomeadamente as doenças cardiovasculares, a doença renal, a perda de visão e as amputações. Na maior parte dos casos não existem sintomas, pelo que é essencial que as pessoas sejam avaliadas regularmente pelo seu Médico de Família, sobretudo a partir dos 40 anos. Apesar destes números, é cada vez mais fácil controlar esta doença, fruto dos avanços que têm existido, quer nos métodos de monitorização da glicemia, quer no tratamento propriamente dito. De facto, sabemos cada vez mais sobre como individualizar a alimentação da pessoa com diabetes e o plano de exercício físico, pedras basilares do tratamento. No que diz respeito aos medicamentos, alguns dos mais recentes não só são muito eficazes e seguros, como conseguem proteger o rim e o coração de uma forma particular.  Assim, o essencial é controlar a doença, pois está demonstrado que, quando as pessoas com diabetes são bem seguidas e controladas, podem até viver mais tempo e com maior qualidade de vida do que as pessoas sem diabetes.

Diabetes e COVID-19

Apesar do conhecimento científico atual ser ainda reduzido no que diz respeito à relação entre a Diabetes e a COVID-19, existe alguma informação geral que merece ser partilhada:

– As pessoas com diabetes não parecem correm um risco aumentado de contrair a infeção pelo coronavirus que provoca a COVID-19, ou seja, o risco de infeção é idêntico ao da população geral, sendo recomendados os mesmos cuidados para evitar a infeção;

– Caso uma pessoa com diabetes seja infetada, os dados disponíveis mostram que essa pessoa tem maior probabilidade de desenvolver uma forma grave da doença. No entanto, não temos ainda dados suficientes para dizer se este risco é real para a generalidade das pessoas com diabetes ou apenas para algumas, pelos seguintes fatores:

   1 – as pessoas com diabetes são mais velhas,

   2 – a diabetes não está controlada em mais de metade dos casos. O controlo glicémico parece ser fundamental para assegurar uma boa resposta à infeção; de facto, uma pessoa com a diabetes bem controlada parece ter uma resposta à infeção semelhante à de uma pessoa sem diabetes;

   3 – fruto dos dois anteriores, o número de pessoas com diabetes e com complicações ou com outras doenças (cardiovasculares, respiratórias, etc.) associadas ultrapassa os 50%, pelo que não sabemos se o problema é só provocado pela diabetes (pouco provável) ou pelo conjunto das doenças (mais provável).

Em resumo, o mais importante é:

1) Evitar a infeção, através das medidas de higiene respiratória e das mãos;

2) Controlar bem a diabetes.

Conclusão

Neste mês de novembro, considerado «mês da diabetes», interessa recordar que é importante prevenir a diabetes através de um estilo de vida saudável; para quem tem a doença, o essencial é controlá-la, para evitar todo o tipo de problemas de saúde associados à diabetes, incluindo formas graves de COVID-19.

Dr. Miguel Melo

Prof. Doutor José Miguel Melo

Médico Endocrinologista CSSMH