Escrever a 4 mãos

A Pediatra e a Pianista, uma relação profissional de Médica e utente que se transforma em Amizade e que o confinamento como consequência da pandemia COVID-19, nos oferece estes testemunhos de rotinas para inspiração de todos!

A Anícia começou por ser minha doente e ficámos amigas. São vinte anos de caminho percorrido.

Ela é professora de piano no Conservatório Regional de Música de Viseu “Dr. José de Azeredo Perdigão” e no Colégio da Via Sacra

Era uma vez… Assim começam as histórias do nosso imaginário infantil… Duas amigas. Uma é médica e a outra pianista, e resolveram escrever a quatro mãos.

O que é escrever a quatro mãos? É como a tocar piano: quatro mãos numa só alma.

O que senti quando percebi que a pandemia Covid veio mudar as nossas vidas e, sobretudo, para ficar um longo tempo?

No início foi um batalhão de sentimentos e emoções. Consciente da grande mudança que se avizinhava, compreendi a importância de parar, respirar fundo, reforçar hábitos e implementar novas dinâmicas. Ou seja, imperava a necessidade de ser flexível e de me adaptar ao desafio em que cada dia se tornava. Uma aventura!

Agora tinha que aprender a viver de outra forma; não tivera oportunidade anteriormente, porque o tempo faltava.

Finalmente tive tempo (até demais!) e não sabia o que fazer com ele. Mas arregacei as mangas e pensei: ”Vamos lá tratar deste tempo e aprender a viver de uma maneira diferente”.

Desafio lançado!

“Pôr as mãos à obra”.  A palavra de ordem? Criatividade!

De repente as nossas casas foram polivalentes. Num estalar de dedos inventámos um ginásio e, no instante seguinte, fomos o chefe principal do nosso restaurante favorito! Ficámos na primeira fila a comer pipocas e a ver o nosso filme preferido e a perseguir as aventuras de um herói!

Depois saímos para a rua, com alguns medos, mas também, com uma necessidade enorme de apanhar sol, ar, chuva… tudo o que dantes nem valorizávamos. Estar com as pessoas que gostamos, outras que nem conhecemos, abraçar os outros, agora com abraços sem braços…

 Mas este é o momento em que, mais do que tudo, temos que conjugar os verbos na primeira pessoa do plural. Nós estamos juntos nisto e nós só podemos sair disto, juntos.

E que verbos são esses? Posso deixar algumas sugestões. Realinhar, reajustar, recomeçar, renascer, refletir, respirar, reinventar e rir… Não esqueçamos nunca, a esperança e a alegria nesta equação.

Com esta aliteração lembrei-me de algumas palavras especiais: resistência, resiliência e… Responsabilidade. Esta última é particularmente importante nesta fase de uma normalidade aparente que procuramos viver.

Como a devemos viver, pergunto eu?

Creio que com todos os verbos que citaste, mas acima de tudo, com o desejo veemente de querer o melhor para o outro. Chama-se a isto altruísmo, que significa tão e simplesmente, um tipo de comportamento encontrado num ser, em que as ações voluntárias de um beneficiam o outro. Ninguém nos obriga a nada, a não ser a nossa consciência.

Vamos ser os heróis desta epopeia?

Por isso, neste período, em que tudo parece normal, procuremos respeitar o espaço necessário para que cada um de nós não coloque os outros em risco. A proximidade com os outros é, sobretudo, a do coração.

E querer o melhor para os outros é uma forma de os amar!

Drª. Alzira Ferrão - Pediatria

Drª. Alzira Ferrão

Médica Pediatra da CSSMH

Coordenadora do Centro do Adolescente da Casa de Saúde São Mateus Hospital, Unidade de Pediatria

Membro da Comissão Regional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente – ARS Centro



Anícia Costa

Pianista

Pianista, professora de piano no Conservatório Regional de Música de Viseu “Dr. José de Azeredo Perdigão” e no Colégio da Via Sacra.