Terapia Ocupacional em Tempos de Pandemia… Porquê?

Na idade adulta

A entrada de uma pandemia na Europa, há cerca de um ano atrás, trouxe diversos desafios e tem-nos feito refletir sobre a eficácia, mas também fragilidades, dos sistemas de saúde e político.  Nesta fase tão crítica da pandemia, encontramos o sistema nacional de saúde cada vez mais sobrecarregado, face a um número crescente de internamentos por doença Covid, atrasando por consequência a resposta a outras morbilidades. A disponibilidade escassa de estruturas físicas e meios materiais, associado ao cansaço das equipas hospitalares, compromete a capacidade de resposta das mesmas, aumentando o tempo de espera pela intervenção para recuperar a “normalidade”. Esta recuperação ganha uma maior relevância  num momento de crise humanitária e consequentemente económica, quando o trabalho que desempenhamos se traduz em mais do um papel na sociedade. Para muitos casos, trabalhar é  uma questão de sobrevivência.

A intervenção da medicina física e reabilitação, pode e deve ser uma das respostas no processo de recuperação. O treino supervisionado dos movimentos do corpo, a correção ao longo do processo e a utilização de métodos menos invasivos traz benefícios não só no momento da intervenção, mas aprendizagens para o resto da vida. A terapia ocupacional, como parte da equipa de reabilitação, acompanha o processo de evolução do cliente, e procura responder aos desafios particulares de cada fase. O aconselhamento e treino de estratégias para autonomizar as tarefas do dia-a-dia tem percussões maiores que a autonomia em si. Traz benefícios psicológicos, pelo sentimento de autoeficácia,  mas também benefícios físicos, por adequar a utilização do corpo a cada fase de recuperação, além de potenciar e acelerar a própria reabilitação. A visão holística da intervenção permite ainda ao terapeuta ocupacional avaliar os desafios do dia-a-dia em todas as suas dimensões, procurando minimizar as barreiras às participação nas exigências que cada um enfrenta.

Na terceira idade

Por outro lado, encontramos uma terceira idade em grande expressão nos números de  internamentos nas unidades de cuidados intensivos e de mortes diárias. Estes números refletem mais do que o declínio normativo da saúde nesta faixa etária. Demonstram principalmente a grande dificuldade da sociedade moderna responder às necessidades da população envelhecida.

A fragilidade, definida como uma síndrome multifatorial, resulta do processo de declínio na função fisiológica que compromete a capacidade do indivíduo responder a eventos stressantes. Esta aumenta consideravelmente os riscos de incapacidade, morbilidade, dependência e institucionalização, estando associado a maiores limitações na participação ocupacional. A resposta a esta problemática e o desenvolvimento de estratégias de envelhecimento ativo e saudável, traz benefícios não só a nível individual, como familiar e em última instância, social.

Para os diferentes componetes da fragilidade, destacam-se abordagens diversificadas mas complementares entre si. Na componente física, intervenções através de, por exemplo, suplementos nutritivos/educação nutritiva e programas de atividade física, a nível psicológico, através de treino cognitivo, e a nível social, através de suporte social. Pela sua natureza transversal, a intervenção é tão ou mais eficaz quanto mais interdisciplinar for a equipa, vocacionada para dar respostas individualizadas mas sincronizadas entre si. O terapeuta ocupacional, inserido nesta equipa, integra a sua visão holística, direcionando a intervenção aos desafios particulares que cada idoso encontra na sua singularidade. Juntos podem traçar objetivos que motivam tanto o idoso como o terapeuta, fazendo da intervenção um processo ativo, colocando a troca de experiências e sabedorias no centro do diálogo. O terapeuta ocupacional tem um papel fundamental no sentimento de autoestima e autoeficácia do idoso, aconselhando o mesmo sobre técnicas e estratégias concretas que lhe podem dar mais autonomia e independênca no dia-a-dia, contribuindo como nenhum para o conceito subjetivo de qualidade de vida.

Rita Sousa

Terapeuta Ocupacional

Estágio Profissional